OS RISCOS DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM PACIENTES COM HIV/AIDS

A mudança de perfil dos portadores do HIV depois dos antirretrovirais é apontada pelos médicos, como o principal fator para justificar o aumento dos casos de doenças cardíacas na população.


Há uma expectativa de que a tendência de doenças cardíacas e cardiovasculares aumente nas próximas décadas, devido ao risco cardiovascular elevado do soropositivo. Com o aumento da expectativa de vida desses pacientes, e com a redução das infecções oportunistas, houve também um crescimento das doenças crônicas e de afecções relacionadas a fatores de risco, comuns, à população mais velha em geral, mas que não podem ser desassociadas da própria toxicidade dos medicamentos anti-retrovirais.
Estudos feitos na década de 90 concluíram que, mesmo compensando-se o efeito dos fatores de risco já conhecidos, ainda há um risco maior de desenvolvimento de enfarte agudo do miocárdio nesta população.
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
“As modificações no metabolismo do paciente infectado pelo HIV estão totalmente interligadas e são as responsáveis por doenças que podem vir a se desenvolver mais adiante. A recomendação dos especialistas é que seja feita a dosagem do perfil lipídico e de glicemia no início do acompanhamento clínico do paciente soropositivo”, afirmam especialistas, que acompanham pacientes soropositivos. Segundo eles, o tratamento adotado nesses casos é praticamente semelhante ao para a população em geral, porém ele chama a atenção para o risco de interações medicamentosas.

“Alguns remédios podem diminuir o efeito dos medicamentos contra a aids, acumulando-se em doses tóxicas”.
É sugerido, primeiramente, que os profissionais de saúde tentem medidas não-farmacológicas, como dieta e exercício: “Se o resultado não for satisfatório, inicia-se a medicação com cautela”. Entretanto, cardiologistas alertam que “em alguns pacientes de risco cardiovascular muito elevado, os medicamentos devem ser usados logo no início”.

RISCO CARDIOVASCULAR
O monitoramento constante de pacientes infectados com HIV que tenham fatores de risco cardiovascular elevados deve ser uma prática adotada por todos os profissionais de saúde. Deve-se optar por exames anuais e, em algumas situações, esse prazo deve ser diminuído.

“Mesmo em pacientes assintomáticos, o cuidado deverá ser redobrado e exames cardiovasculares mais detalhados”.

ATEROSCLEROSE PRECOCE
A doença cardiovascular aterosclerótica é responsável por 30 a 35% da morbidade e mortalidade em todo o mundo. Como já mencionado no início da matéria, no paciente soropositivo a situação é preocupante, porque além de apresentar fatores de risco para as principais causas da aterosclerose – dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes e tabagismo –, ainda faz uso obrigatório de medicações que, por vários mecanismos ainda em estudo, potencializam este risco. A aterosclerose pode levar o soropositivo a ter uma doença cerebrovascular ou até mesmo um enfarte.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia inclui, em 2001, nas Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias e Diretriz de Prevenção de Aterosclerose, um tópico específico para conduta em pacientes soropositivos. A recomendação é que seja feita uma dosagem do perfil lipídico no início do acompanhamento e, se não houver anormalidade – caso o paciente não esteja em tratamento com um inibidor de protease –, repetir a avaliação a cada um ou dois anos, dependendo do caso. Se houver alteração, inicia-se o tratamento e apenas após três meses se repete o teste. Antes disso, não é possível verificar alterações.
DOENÇAS CEREBROVASCULARES
Dados do Ministério da Saúde indicam que as doenças cerebrovasculares são a primeira causa de morte no nosso país. Os acidentes vasculares cerebrais (AVCs) ou acidentes vasculares encefálicos (AVEs) representam o problema neurológico mais comum, sendo a terceira causa mundial de mortalidade, perdendo apenas para enfarte do miocárdio e câncer. Além disso, os AVCs são a principal causa de incapacidade neurológica temporária ou permanente em adultos após os 50 anos.
HIPERTENSÃO ARTERIAL
Um cardiologista cita um estudo recente, publicado no periódico médico AIDS, que relaciona o uso de anti-retrovirais por um período superior a dois anos à causa de elevação da pressão arterial em indivíduos soropositivos. Porém, o cardiologista diz que serão necessárias mais pesquisas para chegar a uma conclusão sobre essa relação:

“ainda não existem provas concretas que relacionem o aumento da pressão arterial com o uso dos anti-retrovirais ou com o fato de ser soropositivo”, informa.

DOENÇA VASCULAR PERIFÉRICA
Neste caso, repetimos a tese de que a alteração metabólica está intimamente ligada aos problemas vasculares que podem ser desenvolvidos em pessoas soropositivas. Além do fumo, a resistência à insulina é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença vascular periférica. A enfermidade é caracterizada pelo estreitamento dos vasos sanguíneos que levam o sangue à musculatura dos braços e das pernas. O bloqueio, por coágulo, de uma artéria que sofreu estreitamento, pode resultar em danos a um braço, a uma perna ou em perda de uma dessas extremidades.
DAS MUDANÇAS METABÓLICAS SURGEM OS PROBLEMAS CORONARIANOS
O coração é um órgão bastante afetado nos pacientes soropositivos. Cardiologista se interroga sobre o motivo do aumento de ocorrências de enfarte, ou de angina em pacientes infectados pelo HIV. Uma das possibilidades, segundo o médico, é a mudança do perfil lipídico do paciente em tratamento com os anti-retrovirais: “Aumentaram os triglicerídeos e mudaram a relação do colesterol HDL (colesterol bom) com LDL (colesterol ruim). Esses fatores, por si sós, já significam um maior risco cardíaco ou isquêmico”.
A observação do cardiologista já foi descrita em diferentes estudos clínicos que mostram o crescimento da incidência de aterosclerose prematura em doentes infectados pelo HIV e tratados com os anti-retrovirais. Isso porque essas drogas elevam a taxa de lipídeos (gorduras do sangue), um dos fatores responsáveis pela doença aterosclerótica. A prevenção e o controle de doenças passam pela identificação dos fatores de riscos, como tabagismo, excesso de peso, hipertensão arterial, sedentarismo, alcoolismo, histórico familiar e o uso de medicamentos como os betabloqueadores.

“Não há diferença no tratamento de pacientes portadores do HIV ou não. Porém, o cuidado precisa ser reforçado em pacientes com HIV. O cigarro continua sendo o grande vilão, a hipertensão tem que ser controlada e a atividade física é fundamental. É gritante a diferença entre o perfil lipídico do paciente que faz atividade física com aquele que não faz. Às vezes, é possível tratar sem recorrer ao medicamento, somente incluindo uma rotina de exercícios físicos”.

Um estudo realizado com mais de 23 mil pessoas com HIV, em 2003, sobre a influência do tratamento antiretroviral na taxa de enfartes do miocárdio, revelou um aumento de 26% na incidência de enfarte por ano de pessoas em tratamento com anti-retrovirais. Em outras pesquisas, é comparada a associação entre o uso dos inibidores da protease e a concentração de lipídeos, hipercolesteremia e hipertrigliceridemia no sangue, podendo variar de acordo com o tipo e a dosagem da droga.

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Fonte: Saber Viver
 
 

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